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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Setembro jás não tem primavera.

E vem o fim. Agosto passa sôfrego, e chega setembro, com a policitação de plácidos dias. Mas o sol cai e traz consigo uma noite sempiterna, arrefecida e dorida... Sobre um leito onde estava o devaneio, o resguardo, o sorriso, o motivo de haver sol e vida. Sobre o leito, já não mais, apenas o ponto final, a chegada. E o que vem? E o que vai? E agora? Setembro jás não tem primavera, setembro toma-se por dezembro... o fim, e um agoniante recomeço.

O padecimento invade, os passos tornam-se cambalidos, o coração se desespera... E a falta de capacidade de compreensão do porquê, causa injúria, e a cabeça se preenche de culpa, e o corpo responde, pedindo a sensação de tato, de volta, de regresso. O olhar expressa em desespero a dor que o silêncio provoca.

Em pensamentos, em reminiscências, reflexos da beleza que sempre preencheu e coloriu os olhos. Porém, consigo um movimentar vasto e desordenado de recortes de saudades, sobreposições de recordações, lágrimas felizes que se confundem sem permissão com lágrimas sujas e carregadas de heresia. O ar taciturno propaga-se e mantêm-se presente, e a dor terrena cresce, uma virose que invade corações e une a dor e cria um coral penoso que suplica por fim de consternação.

Palavras seguidas de lágrimas causadas por retrocessas imagens esfumaçadas na memória recente, provocavam um tumulto que dava voz e representava a trilha sonora que abafava o silêncio da noite. E juntamente ao fervor dos gritos internos convertidos em lágrimas, o leito apresentou-se vazio, amarrotado, já não mais carregando o último adeus. Os corpos ali presentes, esculpidos pelo desamparo, distanciavam e confundiam-se com o negrume do ambiente, desaparecendo.O coração suplica uma pausa da dor, e as lembranças trocam a agonia pelo sorriso carregado de saudade. Ao outro ponto, o espírito seguia seu caminho, e o corpo recebia os cuidados merecidos para ser visto com olhares ternos. Aos que ali subsistiam, seus corpos rogavam por repouso, onde vagarosamente sem notar, cediam ao cansaço.

Ao descerrar dos olhos, em meio ao pranto indelével, súplicas desvairadas pelo desejo de que todo o suplício vivido não deixasse de ser somente ideias quiméricas de um infausto pesadelo. A passos temerosos, um magote percorria um caminho indesejável, destinando-se ao recontro que por ora era visto à olhos inconformados, em um momento que não se é possível uma diligência ensaiada, prevista.

A colisão entre aqueles que a este lugar permaneciam com a casa de habitação de um anjo bom, foi individualmente tangível à dor, árduo. Um momento com necessidade de desvelo, não obstante praticável. Momento que prescindia palavras, dando vazão à melancolia.

Passos sem norte, com desassossego, iam e voltavam, amparavam corpos que embrenhavam-se em súplicas. Ainda que a veleidade fosse de que no âmago se aduzisse unicamente de boas vibrações, não se era praticável, tal pesar aspirava, cabalmente, o recinto, os pensamentos e todos os corações que ali circundavam.Ao instante iminente do adeus, rostos desfigurados ás custas das lágrimas involuntárias, rogavam e ofertavam suas últimas palavras, que porfiavam sair em modo de fala, apenas de olhares ternos e pensamentos carentes. Vagorosamente, o corpo que antes era a casa de um ser incontestavelmente amado e alegre, passa a ser envolvido e trancado em uma bem preparada ataúde, para manter fantasiosamente o corpo em conforto e bom descanso. Enquanto o espírito partia para uma realidade aos demais incognoscível, aos que permeciam a este mundo rogando, restava a saudade, a dor e o desejo de um reencontro em um lugar melhor, onde a morte não interrompe.

Decorrentes meses, é chegado ao findar do primeiro ciclo, a passagem de quatro estações, um ano de ausência, de falta, lembranças gratas... E o silêncio presente onde antes era repleto de risos e jubilações, prossegue sendo ensurdecedor, perturbante, mostrando e mantendo sempre fixado à memória recente o quanto a falta dela faz... Enquanto todos vieram a seguir seus dias, cada qual mantendo sua rotina, alguns levando diferentemente seus dias devido a ausência e, por conclusão dimanada das premissas, a saudade; e outros permitindo-se viver normalmente como sempre foi o decorrer de seus dias, eu olho para trás e sinto em mim a sensação de que ela ainda está aqui, em minha companhia, me guiando, firme e forte para quando eu não conseguir olhar para trás sem tropeçar, estará ali prontamente para me estender as mãos.

Não há como dizer como aos outros seguem as horas, mas em mim, tudo mudou, e se a vida é semlhante a um livro, feito por capítulos devido às experiências que vamos adquirindo e acumulando na nossa bagagem, permito-me dizer que essa vivência pode ter sido o término do primeiro capítulo, mas com a sensação de episódio final, devido aos sentimentos tristes que passei a carregar comigo. E dessa passagem trouxe o aprendizado de que o tempo torna-se insignificante quando o que serve como liga e relaciona tudo a um todo, é o amor. Pouco tempo não é pouco para quem aprende a amar muito, pouco tempo não é muito para quem aprende a amar muito, o tempo deixa de ser apenas uma série ininterrupta e eterna de instantes, para passar a ser o espaço comprimido entre o início de um amor chegando ao seu ápice, tornando-o perdurável, atemporal.

Meu setembro jás não tem primavera, meu setembro tomou-se pelo gosto de fim que traz dezembro, minha primavera jás não possui o colorido, devido à uma das flores mais belas do meu jardim ter perdido suas pétalas, e sido espalhada no vento. Meu setembro deixou de ter primavera, para ter o compasso de dias repletos de novos recomeços, a passos largos e lentos, carregados de saudades e esperanças, de quando a primavera acabar, minha saudade também ter seu fim.